terça-feira, 30 de novembro de 2010

A noção de progresso social em Marx

A maneira pela qual a noção de progresso social chegou a nós tem por viés uma escola de pensamento proveniente do final do século XIX e início do século XX e que se chamou de positivismo. Com efeito, essa tendência de pensamento passou à posteridade um conceito de progresso social muito singular que até hoje é extremamente referenciada, e que muitas vezes as pessoas nem sabem a sua ascendência.
O que aparece nos dicionários de Filosofia, consoantes a esse conceito, é que a noção de progresso é a crença de que as circunstâncias presentes constituem aperfeiçoamentos das anteriores, mas essa idéia pode ser relativa apenas a certos aspectos, como o domínio do conhecimento científico ou o das capacidades morais dos seres humanos. Alternativamente, o aperfeiçoamento pode ser mais global, como na concepção do mundo de Hegel, que vê a história como a corporização progressiva dos princípios racionais. A natureza progressiva da investigação científica é provavelmente o exemplo mais admirável de que dispomos, embora este mesmo seja posto em dúvida por filosofias de pendor cético e relativista, que vêem na ciência apenas uma história de revoluções. O positivismo, portanto, é o transporte por excelência dessa noção de progresso, que enxerga na investigação científica o caminho para o progresso social se dirige.
Toda essa volta em torno da noção de progresso serve para expor a fragilidade de uma tal concepção “positiva” do progresso uma vez que a mesma sofreria um impacto fulminante se a contrapropuséssemos um argumento tal como se segue: É bem verdade que a ciência há muito tempo dá passos largos em direção ao cume do progresso; se for assim, como ou por que a sociedade continua desigual? Sem dúvida, o positivismo não dá conta de uma explicação dessas porque lhe falta uma concepção mais dialética e materialista da história.
Por isso, encontraremos em Marx uma noção um tanto quanto diferente dessa que acabamos de presenciar, onde o progresso é visto, além do mais, como um processo gradual, contínuo e integrado. Comte e Spencer desenvolvem bem essa tese.
A questão do progresso social em Marx adquire um grau inovador na história do pensamento. Diferentemente dos positivistas, Marx considera o progresso social numa descontinuidade, numa desarmonia e que se dá por saltos mais ou menos abruptos de um tipo societal para outro, e sendo realizados basicamente pela luta de classes.
A sua concepção de progresso tem um significado singular que poderíamos denominar como sendo uma complexificação das relações sociais. O que isso significa? Pois bem, percebe-se que a questão não é relativa a um progresso positivo, no sentido acima mencionado agregado ao valor de “melhorar” da sociedade, a questão não pertence ao campo do valor moral, o que Marx quer nos dizer é que a sociedade, dinamicamente, se complexifica tornando-se as suas relações mais “burocráticas”, para se usar um termo bem kafkiano. Então, Marx demonstra bem essa visão na Ideologia alemã, quando trata das transformações ocorridas na humanidade consoante as relações de produção, relatando-se o escravismo, o modo de produção feudal, o capitalismo, etc. Aliás, estas diferentes formas de produção são resultantes desse processo de complexificação, no instante em que o homem tem por desejo hominizar a natureza, pois também é resultante da práxis.
Nos Grundrisse, Marx caracteriza o progresso societal como o desenvolvimento completo das potencialidades humanas, assim como a emancipação humana no sentido mais amplo, do qual depende do pleno desenvolvimento do domínio humano sobre as forças da natureza, em outras palavras, do crescimento da capacidade produtiva.

Nenhum comentário:

Postar um comentário