terça-feira, 30 de novembro de 2010

O Gênero Médio em Diderot

Denis Diderot (1713 - 1784) possui uma importância ímpar dentro da Filosofia não apenas por ser um dos organizadores principais da Enciclopédia, mas também por suas concepções filosóficas não menos importantes que o trabalho de organização da Enciclopédia. As suas idéias estéticas serão o objetivo desse trabalho. Diderot foi uma figura ativa consoante ao seu tempo. Isso se deve ao fato de ele ter compartilhado as idéias iluministas com Rousseau, Voltaire, D’Alembert, entre outros. É importante ressaltar que a base do pensamento no século XVIII era o iluminismo, ou seja, o esclarecimento através da razão, pois que essa mesma razão será retomada por Diderot nas suas idéias estéticas.
O gênero médio constitui uma das principais concepções estético-filosóficas de Diderot. O gênero médio não é uma mera síntese entre a tragédia e a comédia como possam pensar alguns que não tenham tido contato com os textos de dele. Ele (o gênero médio) é um gênero que se situa entre a tragédia e a comédia, há que se repetir, não é uma síntese entre os dois, mas sim um gênero intermediário entre os mesmos. Diderot o chama de gênero sério. Antes de prosseguir o caminho percorrido por Diderot, façamos uma pausa e vejamos agora as influências dele (Diderot) no que diz respeito às anteriodades do pensamento estético. Faremos isso para tentar compreender o pensamento estético de Diderot, haja visto suas influências dos autores antigos. Usaremos de base para essa análise a obra Discurso sobre a poesia dramática diderotiana.
Quanto a Aristóteles, é notória a sistematização característica das suas obras, por isso não seria diferente a sua poética. Diderot sabe da distinção entre a tragédia e a poética no seio da concepção aristotélica e tem essa em vista quando constitui a sua caracterização da mesma matéria. Veja uma dessas distinções proporcionadas por Aristóteles.
“Nessa mesma diferença divergem a tragédia e a comédia; esta os quer imitar inferiores e aquela superiores aos da atualidade”.
Com efeito, Aristóteles confere à tragédia a arte da imitação de seres superiores, entendidos aqui como os heróis e os generais de guerra gregos; confere à comédia a arte de imitar os seres inferiores, aqui entendidos como as pessoas comuns do dia-a-dia. Para essa constatação basta confrontar, por exemplo, a trilogia da Oréstia de Ésquilo, Ifigênia e Hécuba de Eurípides, pertencentes à tragédia, e As nuvens de Aristófanes, por exemplo, pertencente à comédia. Isso em conta, para se seguir à essa regra na França de Diderot, teria que se imitar os reis da França para condizer com o espírito da tragédia aristotélica. Os caracteres seriam dessas tais pessoas “superiores”.
Contudo, Diderot, quando pensa no teatro, não sente inclinação a imitar os caracteres das pessoas, mas sim em imitar aquilo que poderia caracterizar uma universalidade de atos praticáveis por todas as pessoas. Por que, perguntar-se-ia? Bem, como ele mesmo relata no Discurso sobre a poesia dramática, sendo imitados os caracteres pessoais, o telespectador poderia argumentar (a si mesmo) não possuir essas ou aquelas propriedades que o levariam a realizar esse ou aquele ato, conquanto que convinde ao gênero sério substituir essas imitações pessoais por condições que as propiciassem, ou seja, ao invés do caracter responsável pela prática disso ou daquilo, a condição como a tal responsável. Essa universal inclinaria o espectador a repensar se ele faria mesmo ou não determinada prática. Esse mecanismo que Diderot arquiteta em seu discurso tem por finalidade levar o espectador do teatro ao seu tipo de “catarse”, garantida pelo gênero sério. Diderot tem em seu discurso o ímpeto para discorrer sobre a importância da razão na elaboração da poética dramática, haja visto que a razão, como foi dito anteriormente, está no centro do movimento de idéias no século XVIII, e por isso ele deseja que o gênero médio dê conta de instruir o espectador pela arte do teatro. E aí está a sua grande preocupação, pois ele tem que construir um enredo que instrua o espectador sem que o teatro não perca o seu caráter artístico, assim como também não pretende que a poética do drama seja a mais bela, comprometendo a capacidade do drama atingir o espectador, fato esse que constituiria uma catástrofe para o comediante. Consoante a isso, Horácio na sua Arte poética parece ter a mesma preocupação.
“Não basta serem belos os poemas; têm de ser emocionantes, de conduzir os sentimentos do ouvinte aonde quiserem”.

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