terça-feira, 30 de novembro de 2010

O conceito de práxis em Marx

Há muito tempo a história do pensamento têm-se questionado muito sobre questões relativas aos conceitos de teoria e prática, no entanto, poucas vezes conseguiu-se fazê-lo sem uma espécie de divisão entre os mesmos, ou seja, em raras situações vemos um pensamento “aceitável” que bem justifique uma interpolação teórico-prática, um bom exemplo disso seria a filosofia de Aristóteles, que pretende fazê-la através do conceito da vida teorética, mas não é sobre Aristóteles a finalidade deste trabalho, e sim de uma outra personagem não menos importante na história do pensamento, Karl Marx, ou mais precisamente, como ele conceituou a teoria e a prática sem o divisionismo funesto que tantos outros o fizeram, e desde já poderemos dizer que a sua resposta diz respeito a um termo deveras conhecido pelos conhecedores de sua obra, isto é, o que denominou-se práxis.
Para esse momento iremos definir a práxis nos termos de que ela seja a atividade do sujeito que de algum modo aproveita algum conhecimento ao interferir no mundo, transformando esse mesmo mundo ao passo que transforma também a si mesmo. Expliquemos o que seja isso. Esta atividade do sujeito é muito importante para entendermos o seu pensamento, pois é ela fundamental ao mesmo tempo em que condição necessária para a efetivação da práxis, então, esta atividade poder-se-ia denominar trabalho.
É dessa forma, portanto, que se configura a noção de práxis. Este trabalho é diferente dos outros tipos de trabalho (dos trabalhos dos animais). Nos Manuscritos econômicos filosóficos.
É uma relação dialética entre as mesmas, porém, uma dialética própria desenvolvida por Marx, diferente da dialética dos seus predecessores, Hegel, por exemplo; isso se deve ao fato de que Marx confere aos homens o poder sobre o conhecimento e que os mesmos podem julgar aquilo que conhecem ou julgam conhecer, além do mais, a dialética em Marx se dá num plano mais histórico-empírico do que os outros.
Na práxis, o sujeito age conforme pensa, a prática “pede” teoria, as decisões precisam ter algum fundamento consciente, as escolhas devem poder ser justificadas. Na práxis, o sujeito projeta seus objetivos, assume seus riscos, carece de conhecimentos. Na oitava das “Teses sobre Feuerbach”, Marx distingue explicitamente a práxis e a “compreensão” [“Begreifen”] da práxis (quando afirma que os mistérios em que a teoria tropeça são solucionados na práxis e na compreensão da práxis). (MARX, vol. III).
A teoria, então, tem que “morder” as diferentes ações transformadoras, e pode não conseguir fazê-lo, ou pode “mordê-las” muito deficientemente. Em todo caso, fica claro que a interferência da construção do conhecimento na práxis, para Marx, se reveste de uma dramaticidade e assume uma importância que a gnosiologia hegeliana jamais reconheceria.
Uma boa ilustração do trabalho como agente da práxis é relativo aos conceitos de real e concreto. Para que haja uma concretude da ação, é necessário que o indivíduo possua consciência sobre o ato, caso contrário ela designaria o real. O concreto é, pois, uma exclusividade do homem, que por sua vez, tendo consciência dos seus atos, tem também pleno domínio sobre a natureza. A práxis é ação com conhecimento.
Nesses termos podemos então dizer que sem um desses elementos, a teoria e a prática, não existiria o que Marx chamou de práxis, nem ao menos existiria sem a noção de trabalho, pois é esse trabalho a “causa eficiente” da práxis.
Percebe-se nitidamente que o trabalho considerado por Marx não é um simples trabalho qualquer. O trabalho feito pelo homem requer mais que um esforço. Ela necessita da consciência. Esta consciência é garantida pela razão do homem. A práxis, nesse sentido, é o trabalho feito pelo homem com consciência; em outras palavras, para que haja a práxis é necessário haver um trabalho teleológico.
A teleologia é uma palavra de origem grega, cujo seu radical diz respeito à idéia de fim, ou de finalidade, isto é, finalidade, em grego, é thélos. A finalidade, nesse sentido, é o que move a realização do trabalho. É o que Aristóteles chamaria de “causa final”. Um trabalho sem finalidade qualquer animal pode fazer, e diferente desses, o homem, detentor da razão, não faz nada que seja alheio ou diferente dela, a sua essência é essa. Tendo em vista essas idéias, a noção de práxis é de muita serventia quando Marx caracteriza o seu materialismo, pois a práxis é um fator importante na constituição desse conceito uma vez que ela é a base da dialética consoante às relações de produção. O trabalho, dessa maneira, agregada com a noção da finalidade (thélos) constituem a práxis. Por fim, a práxis mantém uma tal relação com o trabalho (o trabalho com finalidade) que seria uma tarefa difícil entender o pensamento marxiano.

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